Públio Athayde
O libreto desta ópera é produto de colagem de três obras. A primeira delas, no sentido da lógica da criação da peça, é Marília – sonetos desmedidos, de José Benedito Donadon-Leal, editada em Mariana por Lázaro Francisco da Silva em 1996.
O editor me fez presente da obra e, estimulado pela sua qualidade e pelas leituras que eu fazia à época, passei a parodiar cada um dos sonetos – fazendo mesmo mais de uma paródia de alguns deles. Por brincadeira, remeti as paródias, anonimamente, a José Benedito, com que eu tenho boas relações. A cada dois ou três dias, enviava pelos Correios alguns sonetos ao endereço do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto, onde lecionavam José Benedito e também Lázaro, que recebia em seu endereço residencial cópias assinadas das paródias, sob compromisso de guardar segredo. Outro que também recebia as paródias, sabendo-as de minha autoria era o poeta Ronald Polito, mais um professor na mesma instituição à época desses fatos. José Benedito, profundo conhecedor das letras e de seus colegas, logo imaginou que as paródias tinham um autor dentre três: Lázaro, Ronald ou eu mesmo – os três bem capazes de tais artes, eu bem menos. Como eu já não trabalhava mais naquele Instituto, a pressão para descobrir a autoria das paródias se acirrou sobre Lázaro e Ronald, passando ambos a me solicitar que me identificasse. Apressei a conclusão, enviei os últimos sonetos e me identifiquei. José Benedito não se manifestou na ocasião. Manteve sepulcral silêncio sobre tudo. Alguns anos depois nos encontramos e, em seguida a alguns insultos necessários, nos abraçamos e rimos juntos de tudo.
Ao fim da brincadeira, eu tinha em mãos a segunda obra de que recortei essa peça: Dirceu – sonetos bem(e)dito(s), lançada pela eBooks do Brasil em 1998, obra com que obtive um terceiro lugar no Concurso Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte. Ao passo que, em Marília, José Benedito canta sua musa, em Dirceu um Doroteu desavergonhado pede a Dirceu que a deixe e fique com ele! Havia um diálogo subjacente entra as duas obras, a original e a paródia. Desse diálogo nasce esta peça. A terceira obra que contribui com fragmentos é Marília de Dirceu, de Tomás A. Gonzaga. Esse trabalho entra aqui tanto pela necessidade absoluta da citação do autor que José Benedito e eu emulamos em nossos sonetos quanto pela demanda de um contra-tempo no ritmo dramático dos diálogos.
Assim, é fácil identificar: na Cena III (80 a 91) os versos são de Gonzaga. Todas as demais falas de Dirceu são da lavra de José Benedito e as fesceninas e escatológicas locuções de Doroteu são de minha pena.

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